quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Arnaldo Trindade

A Orfeu gravou poetas como Miguel Torga, acolheu depois a música de José Afonso ou Adriano Correia de Oliveira e deu duas senhas a uma revolução. "Éramos construtores de uma ideia nova", diz o fundador, Arnaldo Trindade. Trés décadas depois, a Orfeu está de volta

Um rapaz de 18 anos põe-se a caminho de Miramar, em Vila Nova de Gaia, para falar com um vulto da poesia famoso pela reserva e pelo temperamento difícil. O rapaz não se intimida. Bate à porta e explica-lhe ao que vai. Quer gravá-lo a dizer a sua poesia. O "mais difícil" dos poetas, Miguel Torga, recebe-o e ouve-o. "Os poetas são muitas vezes mal interpretados pelos ‘diseurs', porque interpretam teatralmente e perde-se o intimismo dos poemas", argumenta. Mostra-lhe discos de Jean Cocteau para reforçar a argumentação. O rapaz sai da casa de Miramar com um prémio que impressiona. A sua recém-formada editora, a Orfeu, seria lançada com Torga por Torga. "Quando criámos a secção de discos, fui falar obviamente com o mais difícil. É assim que se deve fazer, não é?", lança Arnaldo Trindade, hoje com 77 anos.

Foi precisamente essa ambição e essa força de vontade que nos conduziu, numa tarde de Verão de 2011, a uma casa na Foz portuense. Porque primeiro foi Torga, e, como quem "tinha Torga tinha tudo", chegaram à Orfeu depois dele José Régio, Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner, Jaime Cortesão, Aquilino Ribeiro ou Ferreira de Castro. Porque depois, quando à poesia se juntou a música, chegou a ele um homem chamado José Afonso, "proscrito" no meio editorial pelos problemas com a censura (a autocensura das rádios e editoras, e censura a oficial do Estado), à procura de casa que o acolhesse. "Era tão maravilhoso, certamente político, mas tão inteligente", que Trindade não hesitou. Em 1968, José Afonso gravou o seu primeiro disco para a Orfeu. "E quem tinha o Zeca Afonso tinha tudo".

Foi na Orfeu que José Afonso gravou o melhor da sua obra, foi na Orfeu que Adriano Correia de Oliveira lançou todos os seus discos, ali ouvimos a estreia de Vitorino, o "Pano Cru" e o "Campolide" de Sérgio Godinho, o "Blackground" do Duo Ouro Negro.

Eis-nos então, 43 anos depois de "Cantares do Andarilho", a ser recebidos numa casa da Foz por um homem enérgico e jovial chamado Arnaldo Trindade. Contador de histórias contagiante, tem um misto de fleuma inglesa e descontracção portuense. Um cavalheiro que, na companhia de um charuto e de arquivos seleccionados, nos conduzirá durante várias horas pela história inacreditável dessa Orfeu de poetas e músicos, de designers e empreendedores diversos, que, de pequena editora independente anexa a loja de electrodomésticos, na Rua de Santa Catarina, em frente ao Majestic, se tornaria um aglutinador e instigador de várias revoluções: estéticas, tecnológicas e de mercado. Tudo seguindo uma política explicada nestes termos simples: "A minha linha era a beleza e a qualidade. Coisas que merecessem a pena ser gravadas. Sempre o melhor". Ele que nunca dirá "eu", privilegia sempre o "nós", definirá assim a Orfeu: "Éramos construtores de uma ideia nova". Ele que, aqui sim, utiliza o eu, era o "catalisador num ambiente fervilhante".

À primeira vida da Orfeu, entre as décadas de 50 e 80, segue-se agora um renascimento. Na recta final de 2010, voltámos a encontrá-la nas lojas (ver caixa). Com Arnaldo Trindade, porém, é pela primeira história da Orfeu que viajamos.

Ver mais longe

Filho de um comerciante solidamente implantado no coração do Porto, Arnaldo Trindade cresceu num ambiente especial. No final dos anos 50, o pós-guerra e um "espírito anti-establishment" criou na Invicta um período de renascimento artístico. Foi criado o Cineclube do Porto, onde Arnaldo Trindade ia todos os domingos, às 11h, ver os filmes que não passavam em exibição comercial: "o neo-realismo italiano, o romantismo francês". Surge também o Teatro Experimental do Porto, de que será um dos fundadores. Havia ainda a escola de Belas Artes e pintores como Isolino Vaz, que seriam depois "resgatados" para trabalhar na Orfeu. Arnaldo Trindade estava no centro de todas estas movimentações. "Ia jantar todas as segundas ao Escondidinho com o Manoel de Oliveira, o José Régio, o Alberto Serpa, o António Lopes Ribeiro", conta. Eram tertúlias organizadas pelo director do jornal "O Primeiro de Janeiro", Manuel Pinto de Azevedo, "onde se discutia tudo": as artes, a política, a vida. Todos contra o regime do Estado Novo, assegura. "Penso que ninguém era do regime naquela altura. Talvez os chamados tachistas... Mas francamente, com o espírito de renovação que havia, quem é que queria ser retrógrado?" Certamente que não Arnaldo Trindade.

Ele que viajava todos os anos até aos EUA para um mês de férias, que conhecia Londres e Paris, tinha muito mundo. Via mais longe: "A grande vantagem de viver em Portugal é que conseguíamos ver o bom e o mau do futuro". Quando o seu pai morre prematuramente e Arnaldo Trindade se vê obrigado a trocar o percurso na engenharia pelo comando dos destinos da empresa de venda de electrodomésticos, começa a aplicar o que lhe mostrava esse futuro àquilo que tinha à sua volta. Portugal, década de 1950.

Grava músicos jazz a viver no Porto e aproveita a passagem de nomes famosos pelas salas da cidade para os registar - aconteceu com Los Paraguayos, por exemplo. Grava-os com as melhores condições que a tecnologia lhe podia então oferecer - um gravador Ampex de quatro pistas -, e contrata fotógrafos e designers para assegurar a qualidade do grafismo das edições.

Tem visão de negócio: para estimular a compra de discos, viaja até França e encomenda milhares de gira-discos; depois lança uma promoção: na compra de dez fonogramas, oferecia um desses aparelhos. Tem "espírito de missão": "Tínhamos a loja de electrodomésticos e isso dava-nos o suporte financeiro. A Orfeu era a minha forma de intervir e a minha paixão. Só foi possível fazê-la em termos de paixão, porque não havia lógica comercial". Assim atraiu os melhores.

Levou Miguel Torga aos primeiros "estúdios" da Orfeu. Numa das cabines da loja, depois da meia-noite para que não houvesse ruído a corromper o silêncio necessário, o autor de "Bichos" leu "Ode à Poesia". Ao ouvir a sua própria voz, emocionou-se de tal forma que a mulher, Andrée Cabrée, teve de o reanimar com uma injecção de coramina.

Depois dos poetas e prosadores, Arnaldo Trindade gravou músicos jazz e bandas portuenses, alargou o âmbito da acção assegurando contratos de distribuição com editoras como a inglesa Pye Records, a americana Tamla Motown ou a Vogue francesa - o que lhe permitiu trazer ao Porto Françoise Hardy, entre outros.

Um espírito familiar

A chegada da Orfeu à história da música portuguesa começa a ganhar contornos de definitiva grandeza quando António Portugal, guitarrista imprescindível na renovação da "canção de Coimbra", e Rui Pato, violista que entre muita actividade acompanhou José Afonso no seu percurso discográfico inicial, alertam Arnaldo Trindade para um cantor extraordinário que surgia em Coimbra. "O grande passo foi quando conheci o Adriano Correia de Oliveira", acentua. Com o cantor de "Trovas do vento que passa", que até à morte aos 40 anos, em 1982, registaria toda a sua obra na editora, anunciava-se a chegada à Orfeu de uma geração que renovaria profundamente a música portuguesa enquanto se assumia como barricada de resistência ao fascismo. Adriano trouxe José Niza - "disse-me que era indispensável, que o contratasse ao preço que pudesse" -, que se tornou peça fulcral da editora, ao lado de José Calvário, enquanto músico, produtor e compositor. E entretanto José Afonso bateu à porta.

A Orfeu diversificou-se e, para dar o passo em frente, assegurou a viabilidade financeira com bandas como o Conjunto António Mafra, "populares mas muito distantes do popularucho que havia na altura", garantindo assim a distribuição junto das comunidades emigrantes portuguesas.

Paralelamente, Arnaldo Trindade organizava em 1969 a primeira convenção da Indústria Discográfica em Portugal, atraindo a atenção da revista "Billboard", por exemplo, ao trazer a Ofir representantes de todo o mundo e bandas como os Foundations, os Status Quo ou os Long John Baldry, onde tocava um pianista louro então chamado Reginald Dwight (hoje conhecemo-lo como Elton John).

Arnaldo Trindade dirigia a Orfeu como empresa disciplinada - "sem precisar de impor nada" -, mas com um espírito familiar, dado ao improviso a um grau recomendável de excentricidade: após a vitória de Sandie Shaw na Eurovisão, com "Puppet on a string", montou uma caravana de seis carros para viajar até Paris, carregá-los de EP e regressar antes que a Valentim de Carvalho os tivesse nas lojas.

Revolução a caminho

José Afonso. Arnaldo Trindade mostra-nos uma dedicatória: "Adversariamente, mas com admiração, José Afonso". Afonso, tal como Adriano Correia de Oliveira, tal como muitos dos autores editados por Arnaldo Trindade, defendia a esquerda revolucionária. Trindade, por sua vez, tinha em mente "uma ideia democrática americana" - hoje, confessa, não sabe como se há-de definir. Estavam, porém, do mesmo lado da barricada. Claramente: "Era preciso ir mais à frente para conseguir mudar o sistema, para conseguir a utopia que sempre defendi, tal como Zeca Afonso, de uma sociedade mais igualitária. A nossa política era a utopia".

Era. Arnaldo Trindade que, enquanto editor, era responsável perante a PIDE pelas edições, assumia essa responsabilidade sem constrangimentos. Até porque, apesar de "em momentos mais complicados" ter de correr a esconder os discos debaixo da cama dos filhos, o seu "único disco proibido" foi, conta, "Je t'aime, moi non plus", de Serge Gainsbourg e Jane Birkin - apareceu o oficial da PIDE e apreendeu-o, mas não sem antes reservar "três ou quatro para si".

Era uma utopia? Sim, repetimos. Arnaldo Trindade não olhava a custos. José Afonso e Adriano Correia de Oliveira tinham generoso salário mensal, com obrigação de gravar um novo álbum a intervalos regulares. Os músicos ambicionavam o melhor e era o melhor que a Orfeu lhes oferecia. "Numa altura tínhamos o Zeca a gravar no Chateau Herouville [nos Strawberry Studios, onde haviam gravado antes, por exemplo, os Rolling Stones], com o José Mário Branco a produzir; o Adriano em Londres na Pye Records; o [José] Cid na Vogue, em Paris".

"Cantigas do Maio" (álbum de 1971 de José Afonso, onde encontramos "Grândola vila morena" ou "Canto da Primavera") custou "um milhão de escudos", impressiona-nos. "Mas é o melhor disco português de sempre", sorri, orgulhoso. E isso, claro, é para ele o mais importante.

Quando se preparava para editar "Operário Em Construção", LP de 1972 em que Mário Viegas, acompanhado de José Calvário (compositor e orquestrador residente da Orfeu), José Luís Tinoco e José Niza, interpreta poesia de Vinicius de Moraes, Bertold Brecht ou Manuel Alegre, vários amigos avisaram-no que "estava louco", que era uma imprudência. "Mas não gravo porquê?, isto é tão bonito", retorquiu. E gravou, e editou.

Dois anos depois, o 25 de Abril foi anunciado com "E depois do adeus" e "Grândola vila morena". Curiosa coincidência: duas gravações da Orfeu.

Na sua história, além de todos os anteriormente referidos, está a epopeia em rock sinfónico de José Cid, "10.000 Anos Entre Vénus e Marte", ou canções vitoriosas no Festival da Canção - "E depois do adeus", "Festa da vida"http://www.blogger.com/img/blank.gif, por Carlos Mendes, ou "Madrugada" por Duarte Mendes. Fica uma história ainda por redescobrir, a dos poetas que foram a primeira paixão de Arnaldo Trindade.

Quando encerrou a Orfeu, não sentiu qualquer angústia, qualquer saudade. Não tem nenhum disco da editora a que dedicou três décadas de vida. Tem livros e dedicatórias: "Arnaldo Trindade, a quem tanto deve tanta poesia", assinado: Ary dos Santos.

Interessam-lhe as memórias e passá-las a quem o procurar. "O maior orgulho foi ter-se conseguido fazer", diz. "Tudo o que nasce morre, e nós morremos no zénite". E agora renasceram.

Mário Lopes, Ipsilon / Público, 04/08/2011


As versões de José Afonso em "REintervenção", "Onde Mora O Mundo", de JP Simões e Afonso Pais, e reedições de Mário Viegas e Mena Matos deram arranque à nova Orfeu. Seguem-se Vítor Rua e Pedro Esteves.


Na recta final de 2010, anunciou-se o regresso. Orfeu: todos recordávamos o logótipo dos discos de José Afonso e foi precisamente por ele que começou o renascimento. A 2 de Agosto de 2009, o autor de "Os Vampiros" completaria 80 anos e a Movieplay desafiou Pedro Passos a organizar-lhe uma compilação de homenagem. A falta de tempo adiou o projecto, mas deixou uma ideia a germinar. Porque não reactivar a Orfeu?

A ideia tornou-se realidade com "REintervenção", o álbum inicialmente idealizado, e de "Onde mora o mundo", de JP Simões e Afonso Pais. Entretanto, surgem também as reedições de "Operário em Construção/País de Abril", com poesia de Vinicius de Moraes, ou Manuel Alegre dita por Mário Viegas, e de "25 de Abril ‘Confidencial'/Proibição de Voltar à Direita", do humorista Mena Matos. Os primeiros lançamentos revelam a estratégia da nova Orfeu. Pedro Passos, A&R: juntar, "às novas edições, a recuperação dos discos antigos", muitos nunca disponibilizados em CD. Na calha pode estar o lançamento de uma "colecção de poesia, dita pelos próprios autores", parte importante e por agora indisponível do catálogo original.

Para a "rentrée" estão marcados os lançamentos de "Heavy Mental", de Vítor Rua, um improviso em guitarra de 18 cordas construída pelo músico, e "Mais Um Dia", de Pedro Esteves, um dos músicos de "REintervenção".

Mário Lopes / Público, 04/08/2011


Esperava outra reacção do José Afonso...

O choque foi muito grande, porque eu fazia umas cantiguinhas um bocado para o lírico e, depois dessa conversa, fui para casa e fiz uma série de cantigas assim de rajada, de um dia para o outro. Uma delas, o "Cantigueiro", que foi a que mais me marcou. O Zeca achou graça, adoptou-a e, quinze dias depois, lá estava eu a gravar um disco para a editora onde ele gravava: a "Arnaldo Trindade".

Era uma editora fora do comum...

O senhor Arnaldo Trindade era um comerciante e importador de electrodomésticos que gostava muito de música. Gostava tanto que pagava o ordenado ao José Afonso e ao Adriano Correia de Oliveira para eles se manterem na editora. E fazia-o porque era amigo deles e pelo gosto de não perder as coisas que eles compunham e cantavam...

Não haveria muito lucro...

Quando o Arnaldo Trindade gravava José Afonso e Adriano Correia de Oliveira ele assumia logo à partida que os discos iam ser proibidos. Os que eram divulgados vendiam-se bem mas, feitas bem as contas, duvido que lhe desse lucros. Darão agora, e a gente que não merece. Além disso, os discos que eram proibidos não rendiam direitos de autor, o que fazia com que os ganhos fossem mínimos... Depois, o meu disco saiu e teve uma passagem oficial na Renascença e uma outra passagem na Emissora Nacional. A seguir foi proibido.

Entrevista de Samuel ao Jornal Folha de Montemor

Página sobre Arnaldo Trindade

http://arnaldotrindade.no.sapo.pt/

EDITOR DISCOGRÁFICO DE MÚSICA PORTUGUESA NOS ANOS 50,60,70 E 80 - FUNDADOR DA ETIQUETA ORFEU

Foram tantas, de tão diferentes tipos musicais, as edições que foram da responsabilidade do editor Arnaldo Trindade, desde a década de 50 até à de 80, que nos é impossível mencionar todas, no entanto ficam aqui alguns nomes gravados. Será de salientar que se a Orfeu não tivesse existido, provavelmente,muitos deles nunca teriam saído do anonimato, ou pelo menos algumas das suas obras nunca teriam sido conhecidas, o que teria sido uma perda irreparável para a música portuguesa:

Adriano Correia de Oliveira - José Afonso - Vitorino - Sérgio Godinho - Fausto - Paulo de Carvalho - Carlos Mendes - Fernando Tordo - Maria da Fé - José Cid - Ouro Negro - Raul Indipwo - Teresa Silva Carvalho - Quim Barreiros - Duarte Mendes - Tónicha - Conjunto António Mafra - Samuel - Pop Five Music Incorporated - Arte & Ofício - Conjunto Maria Albertina - José Calvário - Pedro Osório - Florência - Quinteto Académico - Conjunto Pai e Filhos - Padre Fanhais - Júlio Pereira - Luís Cília - Teresa Tarouca - Padre Fanhais - José Jorge Letria - Heinz Worner - Walter Behrend - Trio Los Paraguayos - Lenita Gentil - António Portugal - Conjunto Sousa Pinto - Very Nice - João Braga - Tony de Matos - José Freire (...)

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Nova

A Nova Companhia de Música é representante das editoras americanas Sire e Buddah, da britânica Stiff, da belga RKM, da holandesa Timeless, entre outras. Está a investir em mais equipamento para a sua fábrica de produção de discos. José Manuel Fortunato comprou a firma em 1977 (ainda se chamava Fono Companhia Industrial de Discos) .

Billboard, 11/10/1980

[António] Sérgio, que nessa altura [1979] estava ligado à Nova, editora discográfica responsável pela distribuição nacional dos catálogos Stiff e Sire, entre outros, «tinha uma fé especial no tandem Paulo Pedro e Pedro Ayres». Para ele, tratava-se de «uma dupla totalmente criativa». O passo seguinte foi convencer Hugo Lourenço, um dos responsáveis da editora, a fazer o disco [dos Corpo Diplomático]. «Estávamos a ter muito êxito com o reportório internacional, em que ele não acreditava muito. Quando ouviu os Ramones pela primeira vez, jurou para nunca mais, mas daí a uns tempos os Ramones não só estavam a vender na rua como a ser compradas por grosso, até pelo Círculo de Leitores.»

Na Nova olhavam para Sérgio «um bocado como se fosse maluco», embora reconhecessem que «havia na maluqueira dele coisas que funcionam». Acabaram por aceitar. António Sérgio seguiu para estúdio na companhia dos músicos e de um segundo produtor, João Henrique, com créditos firmados na área do cançonetismo.

Fernando Magalhães, Público, 14/03/1995

É no final da década de 70, cerca de 1978, que Joaquim Simões da Hora começa o seu trabalho como “classical manager” dos catálogos de música erudita internacional na distribuidora nacional Nova. Nesse período trabalhou com Paulo de Carvalho, António Sérgio, Hugo Lourenço, João Henrique e Fernando Morais, entre outros. Cada um deles com competências idênticas às de JSH, mas em diferentes estilos musicais (Rock, Pop, Música Portuguesa, etc.).

Tese de de Tiago Hora (2010)

Mais tarde, já nos inícios dos anos 80, a Nova viria a ser adquirida pela Dacapo (editora e distribuidora musical alemã), continuando JSH com as funções já exercidas na anterior empresa até a Dacapo cessar funções nos finais da mesma década.

Tese de de Tiago Hora (2010)

As etiquetas da editora eram Danova e Boom. Em 1979, Paulo de Carvalho iniciou actividade como produtor discográfico e A&R nacional, na editora Nova para a qual criou a etiqueta Boom.

Os primeiros discos de Adelaide Ferreira e Manuela Moura Guedes foram gravados para esta editora. O regresso dos Sheiks também aconteceu nesta editora bem como um dos discos de Jorge Palma. Cândida Branca-Flor gravou "Trocas-baldrocas", em 1982, para esta editora.

Paulo de Carvalho, António Sérgio e João Henrique foram alguns dos nomes ligados à editora. Ramon Galarza foi A&R da editora entre 1978 e 1980.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Rádio Triunfo


A EMPRESA RÁDIO TRIUNFO, LDA.,

HISTÓRIA DE UMA AVENTURA

Fundada por Rogério de Seixas Costa Leal, José Cândido Varzim da Cunha e Silva e Manuel Lopes da Cruz, foi constituída no dia 23 de Março de 1946, no Porto, a empresa Rádio Triunfo, Lda., tendo como objectivo único a produção industrial de discos em Portugal. Em 1947, é inaugurada a Fábrica Portuguesa de Discos, que virá a ser a primeira fábrica do género em Portugal. Aí começou o fabrico de discos, ainda numa matéria quebradiça, e com limitações quanto à duração do tempo das gravações.

Graças a esta corajosa e inovadora atitude de construir em Portugal uma fábrica de discos, foi aqui fabricado um significativo número de unidades que até aí tinham de ser importadas. No início da sua actividade, a fábrica da Rádio Triunfo apenas prensava discos de 78 rpm, utilizando estampadores em cobre feitos nos mercados internacionais, utilizando fitas magnéticas gravadas nos estúdios da Emissora Nacional. São inúmeros os exemplos desta colecção gravados no Estúdio A da referida estação de rádio. Recentemente, esteve patente no Museu do Fado, em Lisboa, uma reconstituição deste estúdio. No ano de 1955, a Rádio Triunfo, Lda., abre o primeiro estabelecimento comercial, na Rua de Santa Catarina, em pleno centro da cidade do Porto.

Seis anos mais tarde, a mesma empresa abre o seu segundo estabelecimento, desta vez na Rua de Santo António, também na Cidade Invicta. Lisboa teria de esperar mais um ano para ver nascer, na Rua do Carmo, ao Chiado uma delegação da Empresa-Mãe, com armazém e loja de venda ao público. O ano de 1957 marca uma data importante na história da empresa. É neste ano que se inicia o corte dos acetatos e a produção das matrizes de cobre em Portugal. Em 1969, é gravado o primeiro disco em estéreo, graças a um moderno equipamento topo de gama, adquirido na Suécia.

Em 1970, é criada uma secção dentro do grupo, cuja finalidade é a duplicação de cassetes e cartuchos, suportes sonoros muito em voga na época. Ao longo dos seus 31 anos de existência, a Rádio Triunfo, Lda. ultrapassou o estreito âmbito do mercado nacional, lançando-se na conquista de novos mercados e mantendo durante largos anos um papel de liderança na indústria discográfica portuguesa. No dia 15 de Fevereiro de 1974, a Rádio Triunfo abre, na Estrada da Luz, nº 26 B, em Lisboa, aquele que seria o mais completo e bem apetrechado estúdio de gravação existente em Portugal.

Na segunda metade da década de 80, a Rádio Triunfo foi, seguramente, a mais importante companhia discográfica portuguesa, com uma enorme produção, um vastíssimo catálogo e representante de inúmeras etiquetas, quer nacionais, quer internacionais.

Texto de José Manuel Osório adaptado do livro A Grande Aventura da Gravação, livro elaborado a propósito da comemoração dos 100 anos de Gravação Sonora e realizado por uma equipa de trabalho da Rádio Triunfo, Lda. sob a coordenação de J. A. T. Lourenço da Silva e editado pela referida empresa, em Julho de 1977. Composto e impresso nas oficinas de Gráficos Reunidos, Lda. Um abraço de gratidão a Joaquim Alves de Sousa por ter conservado este documento, permitindo-nos hoje saber das coisas de ontem.

A ETIQUETA ALVORADA

"A etiqueta Alvorada, propriedade da empresa portuense Rádio Triunfo, Lda., existia já na primeira metade dos anos 50. Inicialmente conhecida por Melodia, viu-se forçada a mudar o nome por já existir na Europa um rótulo discográfico com o mesmo nome. Durante vários anos o logótipo foi mudando de cores tendo mantido sempre o mesmo aspecto gráfico.

As primeiras edições Alvorada terão provavelmente atingido quantidades pouco significativas. Tiragens de pouco mais de 1500 a 2000 discos foram construindo com passos seguros aquela que é, provavelmente, a mais significativa etiqueta de discos em Portugal.

Foi no ano de 1957 que a Alvorada publicou o seu primeiro disco de 45 rotações por minuto (rpm). Com a referência MEP 60 001, sai nesse ano um disco de Amália Rodrigues onde canta: Lá Porque Tens Cinco Pedras, com música de João Bernabé de Noronha e letra de João Linhares Barbosa, Fado Alfacinha, com música do guitarrista Jaime Tiago dos Santos e letra de António Feijó, A Minha Canção é Saudade, com música de Joaquim Frederico de Brito e letra de Vaz Fernandes e ainda Quando os Outros te Batem, Beijo-te Eu, com música de Armando Machado e letra de Pedro Homem de Melo. Como nota de curiosidade, aqui fica a informação da edição desta mesma faixa na etiqueta Melodia, no ano de 1952, num disco de 78 rpm, com a referência 37.009. O segundo, com a referência MEP 60 002, editado igualmente no ano de 1957, é também um disco de Amália Rodrigues. Amália canta neste disco os seguintes temas: Cabeça de Vento, Disse Mal de Ti, Tentação e Avé Maria Fadista. Nesse mesmo ano são editados com as referências MEP 60 003 e MEP 60 004, mais dois discos da etiqueta Alvorada. Estes dois discos têm o mesmo título: Fados de Coimbra. Segue-se um quinto disco de Maria Amélia Canossa, com a referência MEP 60 005.

José Manuel Osório
Os Fados da Alvorada

A etiqueta Alvorada

A etiqueta "Alvorada" da empresa portuense "Rádio Triunfo" existia já na primeira metade dos anos 50 como editora de discos de 78rpm. A mesma empresa editava também as etiquetas "Melodia" e "Carioca", esta última dedicada à música brasileira.

Em 1957 a Rádio Triunfo iniciou a edição de discos de vinil 45rpm com a sigla MEP 60 xxx.

João Manuel Mimoso

http://www.historia.com.pt/vinyl/Alvorada/textos/Etiqueta.htm

A Rádio Triunfo foi comprada em 1979 pela Movieplay aos herdeiros de Rogério Leal.

Discófilo

Uma sociedade comercial por quotas de responsabilidade limitada, a Discófilo-Produções Artísticas e Discográficas, Lda., foi constituída entre Antónia de Jesus Montes Tonicha (a cantora Tonicha), João Maria Viegas e José Carlos Ary dos Santos. Com sede na Rua Rodrigues Sampaio, 16-3º, em Lisboa, dedicar-se-á à edição de discos e livros, produção de espectáculos
e também [terá] funcionamento como agência artística.

«Discófilo» tem um capital social de 50 contos, integralmente realizado nos seguintes proporções: Tonicha. 35 contos. Ary. 10, e João Viegas, 5. Único gerente é João Viegas.

Revista Plateia (ver blog de fãs Tonicha)

Discófilo - editora fundada por Tonicha, pelo marido e por Ary dos Santos. Apenas existiu no ano de 1975. A quota de Ary dos Santos foi oferecida ao poeta como prenda de natal.

Lançou discos de nomes como Dalida, Tonicha, Beatriz da Conceição, Ary dos Santos e Vera Mónica. Os discos tinham distribuição da Arnaldo Trindade & Ca. Lda.

João Viegas e Tonicha venderam depois o espólio à Orfeu/Arnaldo Trindade que reeditou alguns dos trabalhos.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Chiadofone

[No livro de Paul Vernon] Referem-se também as primeiras evidências de pirataria, como no caso dos discos Chiadofone, que eram na realidade discos prensados por outras companhias mas com um novo logotipo colado sobre o rótulo original.

Jorge P. Pires, Expresso, 02/04/1999

etiqueta portuguesa Chiadofone, que aparentemente se limitaria a colocar o seu selo em discos cujas gravações eram de outras companhias.

Tese de Paula Abreu

O selo discográfico português Chiadofone, encontrado por acaso num site russo nos idos de 2005, circulou no início do século XX e é o mote deste blog sobre música popular brasileira registrada nos chiados dos discos de 76 e 78 rpm.

http://chiadofone.blogspot.com

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

CNM

A Companhia Nacional de Música funciona desde 1993 como Editora, Produtora e Distribuidora de fonogramas e videogramas musicais, sendo desde o início dirigida por Nuno Rodrigues. Como Produtora e Editora independente a funcionar no peculiar mercado português, a CNM tem sabido construir um percurso de relevo e que contribuiu mais do que uma vez para a revelação de nomes e projectos de reconhecida qualidade. Beneficiando da experiência de Nuno Rodrigues, que desde a segunda metade da década de 1970 contribuiu decisivamente para a produção e descoberta de novos talentos nacionais e durante as décadas de 1980 e 1990 representou a quase totalidade das “indie labels” neste mercado. Foi ao longo da última década e meia que a CNM passa a representar as mais prestigiadas marcas de Música Clássica, de Ópera e de Bailado: Opus Arte, Arthaus, Euroarts, Naxos, Wigmore, Soli Deo Gloria, Christopher Nupen Films, Capriccio, BR Klassik, TDK, entre outras, verdadeiras referências para qualquer companhia no Mundo.

Com a aquisição da editora Strauss, em 2003, que detinha já o catálogo das extintas Sassetti e Zip-Zip, a CNM veio assim enriquecer de forma substancial o seu catálogo, passando a representar a quase totalidade da obra de Júlio Pereira e trabalhos da Banda do Casaco, de Fernando Tordo, de Luís Cília e de Né Ladeiras, além de muitos outros nomes fundamentais da música portuguesa. Recentemente, organizou edições especiais da obra de Fernando Lopes-Graça, Barata Moura e José Afonso. Também o fado tem sido tratado de forma especial na CNM, que ajudou à consagração de Joana Amendoeira, Ricardo Ribeiro e tantos outros.

No que respeita ao Domínio Público, a CNM foi a primeira companhia a registar a propriedade de obras gravadas das quais se destaca um significativo número de obras de Amália Rodrigues e a prosseguir essa política editorial, com nomes fundamentais quer do nosso património quer dos mais representativos de outras culturas. Nomes como João Gilberto, Jacques Brel, Miles Davis e tantos outros.

A CNM para além de Produtora é Editora e possui no seu significativo catálogo de Publishing, alguns dos mais importantes temas da nossa música, como por exemplo: “ Nem às Paredes Confesso”, “ Foi Deus”, “ Teus Olhos Castanhos” e obras de Freitas Branco.

ecentemente iniciaram a edição de partituras e de alguns manuais oficialmente adoptados como a “Teoria Musical” e “Solfejos de Artur Fão”.

Em Dezembro de 2010, a CNM começou a reeditar os “ Livros que se ouvem”. Não poderia ter iniciado a Colecção de melhor maneira: Fernando Pessoa por João Villaret e Mário Viegas e Jorge de Sena pelo próprio.

http://www.cnmusica.com/pt/editora.aspx

A loja fica na Rua Nova do Almada, em Lisboa.

("Sucedeu à Sassetti e à Strauss, de que herdou a partir de 2003 aquele espaço e espólio de gravações de música portuguesa e de fado" - Discotecas e Lojas de música da Baixa e do Chiado)

Cnm - Companhia Nacional de Música, S.A.

Actividades de Gravação de Som e Edição de Música
Concelho: Lisboa
Início de Actividade: 1993