terça-feira, 28 de junho de 2011

Marfer


Grande Feira do Disco era uma discoteca muito especial. Era um misto de pimba (como agora se diz) e de discos de referência (como agora também se diz).

Mas não se limitava à edição nacional. Possuía a sua própria etiqueta - Marfer - e representava e importava muitas outras.

Foi criada em 1960 por José Barata, irmão do Barata da Avenida de Roma (Lisboa), onde a malta encontrava os livros, as revistas e até os discos proibidos. O Barata tinha-os sempre escondidos debaixo do balcão à espera do cliente certo.

(Acho que este é um pormenor pouco conhecido, o da Grande Feira do Disco ser Barata).

Por isso, também a Grande Feira do Disco sabia o que fazia, tornando-se no entanto muito mais abrangente (também é um termo de agora) para atingir todo o tipo de públicos.

Tinha lojas no Porto, Coimbra, Viseu, Alcobaça e Cascais. Em Lisboa, ficava na Rua do Forno do Tijolo, 25-C.

Vejam lá a quantidade de etiquetas que a Grande Feira do Disco representava. OK, a grande maioria tinha um catálogo duvidoso, para não dizer medíocre (do meu ponto de vista): Vergara, Musidisc, Visadisc, Alma, Marbella, Phttp://www.blogger.com/img/blank.gifercola, Bel Air, Kapp, Metro, Discophon, Vega, Time, Ekipo, RGE, Custon, Monitor, Liberty, Atlantic, Clarion, Panorama, Request, Universe, Vox, Blue Ribbon, Forum, Ricordi, Cetra, Pye, Berta, Golpix, Halo, Seeco, International e Alegria.

E agora vejam lá a lista de artistas que gravavam para a Marfer. Só cito os mais conhecidos (ou os que eu conheço), já que ele é numerosa:

Artur Garcia, Ada de Castro, Celeste Rodrigues, Manuel de Almeida, Maria José Valério, Deolinda Rodrigues, Moniz Trindade, Argentina Santos, Tristão da Silva Jr., Daniel Bacelar, Claves, Fernando Maurício e Victor Gomes.

LT
http://guedelhudos.blogspot.com/2007/10/grande-feira-do-disco-era-barata.html

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Tecla

Fundador da editora Tecla e Jorsom, Jorge Costa Pinto fez em Londres cursos de captação de som, corte de acetatos, galvanoplastia e prensagem. Tem no currículo de engenheiro de som dezenas de gravações.

A - Edita os seus próprios discos?

JCP - No rescaldo da Tecla, criei a Jorsom onde edito coisas minhas, música clássica portuguesa e bandas militares portuguesas. Gravo obras de grandes compositores portugueses que nunca ninguém gravou. Tenho esta mania de preservar as nossas coisas.

A - E o que aconteceu ao espólio da sua editora Tecla?

JCP - Vendi-o Tinha obras importantes de grandes autores. Comecei em 1967, com um disco do João Maria Tudela e outro da Florbela Queiroz. Depois editei a Madalena Iglésias, numa altura em que trabalhava como arranjador para outras editoras. Foi então que fiz os arranjos de um disco para a Philips, com o Carlos do Carmo. Foi o 'Por Morrer uma Andorinha'. Depois ele veio para a Tecla e gravámos 'Gaivota' que ganhou logo um prémio. Seguiu-se o 'Canoas do Tejo'. Na Tecla também gravámos a 'Pedra Filosofal' do Manuel Freire e a 'Tourada' do Fernando Tordo. O Ramiro Valadão não queria nem por nada que a canção fosse ao festival da RTP, mas eu impus a presença do Tordo.

A - Como acabou a Tecla?

JCP - Eu acreditei 100% no 25 de Abril e como era 100% socialista decidi fazer uma fábrica de discos, para não ficarmos nas mãos das multinacionais. Montei a fábrica em Rio de Mouro, em pleno Verão Quente de 1975. Estava tudo a correr bem e em 1976 meti um director comercial na empresa e fui fazer trabalhos para a África do Sul. Quando regressei estava tudo destruído. Paguei as dívidas e acabou-se. Vendi todo o repertório da Tecla.

A - Agora qual é a sua principal actividade?

JCP - Os discos da Jorsom não são comerciais, por isso tenho de trabalhar mais que nunca. Trabalho sobretudo como orquestrador e arranjador e tenho trabalhado com coros amadores. A convite de Joaquim Luís Gomes estou a dirigir a Orquestra Típica Scalabitana. Reorganizei a minha orquestra de jazz e lá vamos indo.

Entrevista Revista Autores (Abril/Junho 2004)

JORSOM

Empresa dedicada à divulgação musical possuindo um estúdio de gravação. Esta empresa tem à sua frente o reputado maestro Jorge Costa Pinto, reconhecido profissional dentro e fora de Portugal. A Jorsom dedica-se também à venda de pianos Baldwin, partituras musicais, CDs Audio, software e livros musicais (entre outros). Consulte o nosso site para obter mais informações.

http://www.jorsom.com.pt

Jorsom Audio Visual, Lda.

Actividades de Gravação de Som e Edição de Música

Concelho: Lisboa
Início de Actividade: 1976

domingo, 5 de junho de 2011

Strauss

Strauss ressuscita fundo de catálogo Sassetti

Setecentas fitas «masters», cerca de dez mil títulos, mais uns quantos milhares de partituras impressas. Uma inteira história da música, sobretudo da portuguesa, que estava votada ao pó nos arquivos da Sassetti. Não está mais, porque a Strauss comprou tudo e propõe-se fazer a campanha de reedições mais cuidada de sempre em Portugal. A Strauss comprou, em 1991, o catálogo Sassetti. Seria uma transacção comercial normal, não fora este «pormenor»: a casa Sassetti existia desde 1848 e por lá passaram alguns dos maiores artistas portugueses dos últimos 150 anos.

É um património musical de valor inestimável, uma inteira fatia da história da cultura portuguesa. Mas a Sassetti foi também uma das empresas vítimas do 25 de Abril, altura em que entrou em regime de autogestão que conduziria ao seu colapso comercial. Alguns artistas, como Sérgio Godinho, Fausto e José Mário Branco tomaram depois a iniciativa de recuperar o material que haviam gravado para essa produtora, tendo em vista a sua reedição em CD. Foram, todavia, iniciativas pontuais e o grosso do riquíssimo património da Sassetti ficou bastante votado ao esquecimento ao longo de toda a década de 80.

A Strauss acabou por comprá-lo por uma cifra que o seu sócio-gerente, Armando Martins, não quer quantificar, quando o negócio foi feito segundo um complexo arranjo de passivos e activos. Armando Martins nem sequer sabia ao certo o que estava a comprar e ficou bastante surpreendido quando foi informado de que, para além das fitas gravadas, era também proprietário de um dos maiores, talvez o maior, espólio de música impressa de Portugal. Agora estas pilhas de partituras, algumas das quais estiveram para ser queimadas à falta de lugar para as guardar, irão voltar a ver a luz do dia, estando prevista a abertura de espaços apropriados à sua venda, nas lojas Strauss.

A disponibilidade do espaço de venda é, de resto, uma das grandes razões que levou Armando Martins a adquirir a herança Sassetti.

Profissional do ramo há 25 anos, tem hoje uma cadeia de lojas de produto acabado, conferindo-lhe ramos de canalização e a possibilidade de relançar um catálogo que estava quase condenado. Quando comprou, no entanto, foi com outras preocupações que a do lucro imediato. De algum modo, o que ele queria era ter aquilo, e até comentou que não se importava de o levar para a tumba. Claro que a ideia não era bem essa, mas que para reeditar mal era preferível não reeditar.

A sua preocupação passou então a ser a de encontrar o homem certo para o trabalho, alguém com suficiente conhecimento e o gosto pelo catálogo Sassetti para o fazer devidamente ressuscitar. Os seus contactos levaram-no então até Hermenegildo Gomes, profissional de rádio há 31 anos, actualmente aos microfones da RDP. Hermenegildo era, para usar as suas próprias palavras, um dos eleitos da Sassetti, uma visita obrigatória sempre que um disco se lançava nessa companhia, mesmo depois do 25 de Abril. Está agora e de há um ano a esta parte a retrabalhar o seu património, secundado pelo músico Carlos Dâmaso, sobre quem recai a tarefa de recuperação e reprocessamento digital das fitas. Têm muito trabalho pela frente. Não será tudo para relançar em CD, mas, segundo estima Armando Martins, o catálogo Sassetti inclui qualquer coisa como 700 fitas «masters», totalizando cerca de dez mil títulos.

A filosofia dos relançamentos em CD, já posta em prática nos títulos lançados de Manuel Freire e José Afonso, é que os discos venham acompanhados de notas biográficas e de contextualização histórica dos registos originais. É uma excepção à regra das reedições geralmente descuidadas que domina o mercado da nossa nostalgia, como não é menos inusitado o princípio de contactar os artistas que rubricaram essas gravações, antes de transpor para CD. Como se sabe, a maior parte dos contratos estabelecidos entre os artistas e as produtoras fonográficas em Portugal, sobretudo antes dos meados dos anos 80, não previam a hipótese da sua renegociação em caso de reedição. Daí decorre que, na maior parte dos casos, os artistas em causa, sendo só intérpretes, ou não auferindo de direitos de autor, vêem hoje os seus trabalhos reeditados sem receberem por isso qualquer contrapartida monetária. Como nos confiou Hermenegildo Gomes, se certos artistas Sassetti recebessem segundo a tabela de antigamente, teriam hoje direito a qualquer coisa como 19 escudos por reedição. Daí a estratégia da Strauss de renegociar com os artistas, propondo nomeadamente a actual regravação de temas antigos e a sua inclusão nas reedições deste últimos, como já aconteceu com Manuel Freire e «Pedra Filosofal». Outra táctica consiste em estabelecer novos contratos com artistas que fizeram carreira na Sassetti para o efeito de lançamentos de discos de inéditos, e é assim que esta semana surge na Strauss «Cantos D'Antiga Idade», de Pedro Barroso.

Luís Maio, PUBLICO, 15/02/1994


A Strauss detinha o catálogo das extintas Sassetti e Zip-Zip. Em 2003 foi adquirida pela CNM.