quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Estranha Forma de Vida


O 6º episódio de "Estranha Forma de Vida - Uma História da Música Popular Portuguesa" é dedicado ao outro lado do meio musical - as editoras por trás dos discos, especialmente no período que vai de inícios dos anos 50 a inícios dos anos 80. Para nos acompanhar, contámos com os testemunhos de Arnaldo Trindade, Carlos Cruz, Carlos Portugal, Daniel de Sousa, Eugénio Pepe, Francisco Nicholson, Hugo Ribeiro, Manuel Jorge Veloso, Mário Martins, Pedro Osório e Vieira da Silva.

João Carlos Callixto

Após a introdução do LP, em 1948, a indústria discográfica assiste a uma completa transformação. A etiqueta Orfeu foi uma das pioneiras no nosso país, como nos conta neste episódio Arnaldo Trindade. Mas, nas décadas de 50 e 60, a Valentim de Carvalho e a Rádio Triunfo disputavam muitos dos nomes maiores do fado e da canção ligeira, e profissionais do meio, como Carlos Portugal, Daniel de Sousa ou Mário Martins, relembram a sua passagem por essas editoras. Já na segunda metade da década de 60, surgem independentes, nomeadamente a Riso & Ritmo (recordada por Eugénio Pepe, Francisco Nicholson e Vieira da Silva) e a Zip-Zip (de quem ouviremos Carlos Cruz), criadas após o sucesso dos programas homónimos na RTP. A histórica Sassetti lança-se também no mercado discográfico já em inícios dos anos 70, como recordam Manuel Jorge Veloso e Pedro Osório, e acaba por conquistar um lugar de relevo no panorama nacional.

Site RTP

Discos Estoril
Rádio Triunfo / Alvorada
Valentim de Carvalho
Orfeu / Arnaldo Trindade
Discos Rapsódia
Tecla
RR / FF
Marfer
Zip-Zip
Sassetti / Guilda da Música
...

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Orfeu


11/11/11. A LX Factory, tal como aconteceu nos últimos seis anos, escancara as suas portas durante um dia de Novembro, e convida toda a gente a espreitar, a intrometer-se e ver o que se passa lá dentro. É um dia de festa, em que se celebra um espaço que se recusou a permanecer apenas como um símbolo do passado – a antiga Companhia de Fiação e de Tecidos Lisbonense – e se impôs como um importante pólo de criatividade, uma ilha efervescente nascida no meio de Lisboa. E isso, parecendo, que não leva-nos à Orfeu, a mítica editora criada por Arnaldo Trindade em 1956, adormecida no início da década de 1980, e renascida agora como Art'Orfeu Media. Hoje, vive no interior da LX Factory. E esta sexta-feira vai mostrar, em dois momentos, o seu passado e o seu futuro.

Orfeu – ontem, hoje e amanhã Ontem, 17h30-18h30:

Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Sérgio Godinho, Fausto e Vitorino, mas também Miguel Torga, José Régio ou Sophia de Melo Breyner, mas também Aquilino Ribeiro, Ferreira de Castro ou Jaime Cortesão, e ainda Pop Five Music Incorporated, Quim Barreiros, Duo Ouro Negro ou Conjunto António Mafra. A história da Orfeu, fundada por Arnaldo Trindade em meados da década de 1950, é a história de um homem que queria estar entre os músicos, que não queria ser um editor de secretária, à distância, e que se dividia entre um amor profundo à música e outro tanto à poesia. E que, mais do que tudo, queria criar algo novo na música portuguesa. E oferecer o seu espaço ao talento que encontrava.

Para recordar o percurso notável da Orfeu nas décadas de 50, 60 e 70, a Art’Orfeu Media convida todos a partilharem, entre as 17h30 e as 18h30, uma conversa com quem esteve e está hoje directamente envolvido na história escrita e reescrita da editora:

- Arnaldo Trindade, seu fundador, dinamizador e admirável contador de histórias;

- Carlos Cruz, responsável pela comunicação e parte da “super equipa” de Arnaldo Trindade – que incluía ainda José Niza, José Calvário e Miguel Graça Moura – em princípios da década de 70;

- David Ferreira, ex-director da EMI-Valentim de Carvalho, actual responsável pelas reedições do projecto Poetas & Prosadores do catálogo da Orfeu;

- Ruben de Carvalho, director da Festa do Avante! e responsável pelas reedições da série "Fados" na Orfeu;

- Vitorino, músico que gravou para a Orfeu os seus quatro primeiros álbuns;

- Zélia Afonso, viúva de José Afonso, nome maior do catálogo da editora, cuja obra será integralmente reeditada em 2011.

No final desta confraternização o professor e pianista Amílcar Vasques-Dias fará uma interpretação muito especial de alguns temas da obra do Zeca Afonso.

No pós-jantar, o palco que foi ocupado pela conversa ao fim da tarde dará lugar à música, interpretada por alguns dos nomes que recuperam o espírito original da Orfeu para os dias de hoje. Durante o ano de 2011, a par da reedição de discos de Mário Viegas e Mena Matos, a nova Orfeu publicou dois novos álbuns que, de certa forma, ajudam a balizar os caminhos da música portuguesa que a editora explorará de futuro:

"REIntervenção", um tributo a José Afonso que promove parcerias inéditas tão ao gosto da antiga Orfeu e "Onde Mora o Mundo", disco em duo de JP Simões e Afonso Pais. Simões e Pais, de resto, integrarão o lote de músicos que actuará esta Sexta-feira no espaço daOrfeu na LX:

- Amílcar Vasques-Dias e Tiago Sousa, em representação do projecto "REintervenção";

- Afonso Pais e JP Simões, em recapitulação do disco "Onde Mora o Mundo";

- Vítor Rua, fundador dos GNR e do duo experimental Telectu, em apresentação de "Heavy Mental", disco improvisado em guitarra de 18 cordas a publicar em Novembro;

- Filipe Raposo, nome mais ligado à música tradicional, aqui em apresentação do seu disco em trio de jazz a publicar em Novembro;

- Pedro Esteves, novo cantautor português, cujo disco de estreia, "Mais Um Dia", será lançado em Fevereiro.

Entre o passado e o futuro há um presente. Venha ter com ele no dia 11. Às 17h30 e às 22h30.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Uma Vida Cheia de Música



Maria Angelina 1951-1975 - Chinguar - Silva Porto

Trabalhou na Rádio Reparadora e na Fadiang, em Silva Porto, as maiores editoras discográficas em África. Alimentou-se da música, do desporto e das amizades. Hoje, Maria Angelina, ou Zita para os amigos, gosta de se lembrar da terra onde foi feliz.

Aos 19 anos, Maria Angelina empregou-se na maior editora de discos da África portuguesa, a Rádio Reparadora, que ficava em Silva Porto. «Vendíamos muita música africana para quase todo o território angolano.» Volvidos alguns anos, esta jovem enérgica, que tinha como grande divertimento trepar às árvores com uma faca na mão, mudou-se para a Fadiang - Fábrica de Discos de Angola, que pertencia ao mesmo dono, e que mais tarde veio a ser seu sogro.

A Fadiang começara a trabalhar em Silva Porto, um pouco depois de a Valentim de Carvalho ter iniciado actividade em Luanda. «Importávamos muita música. Tive o privilégio de fazer selecção daquilo que tinha de exportar, bem como de escolher música africana», explica Zita, que ia a concertos para seleccionar os grupos mais interessantes. «Fazíamos as gravações num estúdio em Luanda, que não era nosso, e depois editávamos os discos em Silva Porto», refere. Esta angolana, que passeava descontraidamente na sua mini-honda, conviveu com o cantor Paco Bandeira, que se encontrava em Angola numa comissão de serviço militar, aproveitando para realizar espectáculos.

Viver a vida

Sempre gostou de música e, ainda que o pai achasse estranho, era com música que conseguia estudar. Baptizada com o nome de Maria Angelina, em homenagem à avó materna, depressa a madrinha a rebaptizou como Zita e assim ficou até hoje.

Fazia parte de uma família de 11 filhos, sendo a segunda das três irmãs, mas lembra-se de, à mesa, serem 18 a vinte pessoas, contando com os primos, que «iam todos lá para casa». Nasceu há 60 anos numa quinta que o seu avô materno, António Cravo, tinha nos arredores de Chinguar, onde adorava estar na companhia das tias. Ali semeava-se trigo e milho e havia espaço para a neta brincar à vontade. Ficava lá três a quatro meses sem sentir «grande necessidade de ir a correr ter com os pais», que moravam a cerca de duzentos quilómetros para norte, no Ecombe. Ali fez a escola primária, marcada pelo facto de os professores baterem nos alunos.

Contra a vontade do pai, a família mudou-se para Silva Porto, actual Kuito. Por essa razão, o chefe da família teve de comprar uma motorizada para trabalhar na moagem. Tratava-se de uma das maiores empresas da região, propositadamente instalada no planalto, por ser considerado o celeiro de Angola, onde havia milho, trigo e se semeava o arroz. Ali existia a linha do caminho-de-ferro de Benguela, de onde vem o nome de Silva Porto Gare.

No liceu, onde ficou até completar o antigo quinto ano, Zita continuou a desfrutar de «uma vida boa» e a fazer piqueniques com os amigos. «Nem que andássemos trinta ou quarenta quilómetros, íamos sempre, umas vezes de boleia, outras de bicicleta.»

Desses tempos, recorda a época em que foi jogadora de futebol e de futsal, na equipa feminina do Bié. Ainda hoje os colegas se reúnem para conviver em festas que nunca juntam menos de uma centena, havendo mesmo quem venha propositadamente do Canadá, como aconteceu o ano passado.

Livros, discos e produtos rurais

Aos 17 anos, Zita foi trabalhar para uma livraria - o seu primeiro emprego - e mais tarde para uma drogaria. Passado algum tempo, trocou-a pela casa comercial de uma tia, situada em Kangote, que ficava fora da cidade (no mato).

Por pressão da mãe, concorreu para ser monitora - hoje seria professora primária - num posto escolar, que ficava em Kapange. A escola era uma cubata, sem bancos nem carteiras e a casa mais próxima ficava a dez quilómetros. Os alunos, que não chegavam a uma dúzia, sentavam-se nuns banquitos feitos em troncos e tinham apenas uma ardósia, mas «manifestavam uma força extraordinária de aprender». «Era fantástico!», sublinha. Sem condições, Zita desistiu de dar aulas e empregou-se na Rádio Reparadora.

Foi ainda monitora da Extensão Rural, uma organização estatal que tinha como objectivo ensinar os angolanos a terem melhores rendimentos nas suas culturas e a fazer subprodutos do que cultivavam. «Ensinávamos-lhes que era possível, por exemplo no caso do amendoim, fazer manteiga de amendoim e aproveitarem o óleo.»

Portugal muito perto

Zita casou-se e a lua-de-mel foi passada em Portugal, onde o marido veio fazer um estágio. Aterraram em Lisboa em Novembro de 1974. «Estava um sol radioso e eu adorei o país.» No dia seguinte rumou para o Porto, onde a chegada foi menos calorosa, com frio e chuva. «Estava um tempo horroroso e eu detestei o Porto, cidade de que ainda hoje não gosto muito», confessa. Em contrapartida, adora o Alentejo, porque lhe faz lembrar as suas planícies, «com espaço, sol e calor».

Ao regressar a Angola, perguntaram-lhe como era Portugal e Zita respondeu: «Muito lindo para darmos uma voltinha e regressar a casa», mas um ano depois, esta angolana de alma e coração, já estava de volta com dois sacos na mão numa ponte aérea.

A família também veio, incluindo o sogro, que foi contactado para montar a fábrica de discos da RDP - Radiodifusão Portuguesa, com a editora Imavox, no local onde se situavam os antigos emissores do Rádio Club Português. A zona que oferecia melhores condições foi Vale de Figueira, e ali o sogro de Zita reergueu a indústria, empregando quase só os seus trabalhadores de Angola. A banda sonora da Guerra das Estrelas, encomendada por Inglaterra, e os milhares de discos, feitos ainda em vinil, não foram suficientes para manter de pé esta empresa que, no nosso país, editava apenas música portuguesa.

Viveu na Guiné e na Madeira, onde teria ficado se o emprego do marido se tivesse mantido. Hoje, já viúva, trabalha nos Recursos Humanos da Universidade Lusófona, é avó e aspira um dia poder mostrar às filhas - portuguesas - a terra onde nasceu e foi feliz.






Cristina Silveira / Write View (Notícias Magazine, 2011)

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Imavox

Por escritura de 11/V/1972 foi constituída a sociedade “IMAVOX - Som e Imagem, SARL”, sendo que a accionista maioritária era o “Rádio Clube Português, SACRL”. Esta veio a ser nacionalizada em Dezembro de 1975, através do DL. no 674-C/75;

Após a nacionalização da Rádio, a Comissão Administrativa da Radiodifusão Portuguesa nomeou uma Comissão Administrativa para a IMAVOX, que substitui os órgãos legais e estatutários. Tal Comissão, de composição variável, administrou a IMAVOX até 26/VI/1979;

Em acta de Assembleia Geral de 18/VI/1979, foram nomeados administradores da executada IMAVOX Arlindo Gomes de Carvalho, Júlio César Carvalho Rodrigues Pereira, Rui Eduardo Oliveira Soares, Joel Nelson Mendonça Vaz e “Parodiantes de Lisboa, Publicidade e Artes Gráficas, Lda.”, para o triénio de 18/VI/1979 e 18/VI/1982.

O Conselho de Administração nomeado em 18/VI/1979 elaborou um relatório ao Presidente da Comissão Administrativa da Radiodifusão Portuguesa, sendo a situação económica da IMAVOX, em Junho de 1979, de falência técnica, só não declarada por a maioria dos credores se situarem na esfera estatal. O Conselho de Administração, então nomeado, após a análise da situação económico-financeira da empresa, perante a situação de falência técnica, tomou várias medidas com vista à recuperação económico-financeira da IMAVOX, designadamente:

- a satisfação de alguns compromissos mais prementes com o estrangeiro;
- liquidação de todos os encargos contraídos durante o mandato da administração, nomeadamente, de natureza fiscal;
– reestruturação dos serviços;
- transferência do armazém para a sede;
- aluguer da fábrica de discos da R.D.P., o que se considerou um factor essencial de sobrevivência da IMAVOX;
- estabelecimento de bases para uma programação com vista a uma permanente intervenção no mercado do disco;

Por sentença de 15/V/1984, a IMAVOX foi declarada em estado de falência;

Dados retirados do Acórdão de 27 de Setembro de 1995

"Mais tarde comecei a fazer as minhas próprias músicas e decidi ir mostrá-las. Um amigo meu conhecia umas pessoas no Rádio Clube Português que estavam ligadas a uma editora nova, a IMAVOX, e foi aí que gravei o meu primeiro disco. Foi assim que a música entrou na minha vida." Carlos Alberto Vidal, i, 2011 (Gravou dois singles e o LP "Changri-Lá" para a Imavox).

"Entretanto, ainda em 1972, assina contrato com a Editora IMAVOX , editora ligada ao Rádio Clube Português, onde grava o seu primeiro L.P, designado por Cantos Livres, Contos Velhos, ( L. P. – 1973 ) e os singles Amigo, meu amigo ( single – l973); Barquinha vai, Barquinha vem ( single – 1974)." (Biografia de Francisco Naia)

Editora ligada ao Rádio Clube Português. António Sala foi colaborador da Imavox. Para a editora gravaram nomes como Rodrigo, Berta Cardoso, Cidália Moreira, Carlos Zel, João Ferreira Rosa, António Calvário, José Cheta, Perspectiva, Banda do Casaco, Petrus Castrus, Carlos Alberto Vidal, Very Nice, Go Graal Blues Band, etc

Era a representante em Portugal da Motown.

A Imavox chegou a ser responsável pela edição dos discos da "Discoteca Básica Nacional", iniciada em 1978, e que mais tarde, em 1987, passaria a fazer parte da editora PortugalSom.

IMAVOX

Representavam a Motown em Portugal.

Houve uma complicação legal que condenou José Serafim e a Movieplay. Durante 8 anos a Riso & Ritmo comprou discos da Motown à Imavox que os podia produzir. Quando não tinha capacidade de produção a Riso e Ritmo podia produzir os discos noutro fabricante. O que acontecia na fábrica da Rádio Triunfo que também era propriedade de José Serafim.

(Billboard, 25/07/1981 e 08/08/1981)

Ligação:

http://www.discogs.com/label/Imavox
http://rateyourmusic.com/label/imavox/

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Riso e Ritmo

A Discos RR foi formada por Armando Cortez, Francisco Nicholson e Eugénio Pepe. "Riso e Ritmo" era o nome do programa de humor na RTP de Cortez e Nicholson. Foram eles quem inaugurou a etiqueta com este EP. O segundo disco era da comédia musical "Querida Mulatinha" com Iolanda Braga e Raul Solnado, de 1966.

Mais tarde a etiqueta foi comprada pela Movieplay (1977?). Algumas das reedições de José Afonso foram lançadas por esta etiqueta.

outra informação mais recente obtida em cassete de 1991 dos Terra Viva:

"Cassete editada em 1991, Edição e Distribuição de Riso e Ritmo Discos SA, gravada nos Estúdios Riso e Ritmo Discos SA, Lisboa"

início da actividade da Movieplay Portuguesa - Discografica, S.A. : 1977