quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Manuel Simões

Manuel Simões foi um empresário de visão larga, audaz e atento ao mercado. Inovador, construiu a primeira fábrica nacional de discos de microgravação, em Vila Franca de Xira, a Fábrica Ibéria. Tinha já criado a discográfica Estoril, na qual contou com a direção artística e musical do maestro Belo Marques, tendo gravado, entre outros, Alfredo Marceneiro, Berta Cardoso, Maria de Lourdes Resende, Maria da Conceição, Margarida Amaral, Tristão da Silva, Argentina Santos, Mariana Silva, Anita Guerreiro e Maria José da Guia. A “sua” Discoteca do Carmo, no Chiado, em Lisboa, era um espaço das novidades internacionais que ali chegavam antecipadamente ao circuito comercial nacional, como o referiu, numa das suas crónicas radiofónicas, David Ferreira. Em 2001 constituiu a Fundação Manuel Simões que passou a ser a proprietária do espólio da Estoril Discos, tendo como objetivos, entre outros, a divulgação do Fado, canção pela qual se apaixonou quando veio viver para Lisboa, nomeadamente nos ambientes fora de portas”.

Manuel Simões nasceu a 09 de maio de 1917 em Pedrógão Grande, o ano da primeira aparição em Fátima, um facto que viria a marcar a sua vida. Na Europa grassava a I Grande Guerra na qual Portugal está diretamente envolvido, ao lado da aliada Inglaterra. Neste ano é enviado para a Bélgica o Corpo Expedicionário Português que foi praticamente dizimado pelos bombardeamentos alemães em La Lys, na região de Ypres. O período é de instabilidade política com a recém-proclamada República a viver divisões internas e as populações a enfrentarem grande dificuldades, desemprego e fome.

Em Pedrógão Grande, Manuel Simões faz a instrução primária, e em 1929, como muitos jovens da época, vem para Lisboa procurar melhores condições de vida. Encanta-se de imediato pelo bulício da cidade, a sua peculiar luz e o grande Tejo.

Manuel Simões trabalha no comércio, mas sentia vontade de saber mais, uma característica que o acompanhou toda a vida. Percebendo que tinha de ganhar mais competências, matriculou-se no curso noturno da Escola Ferreira Borges que funcionava então no Liceu Passos Manuel, nas Mercês. Neste percurso académico, António Carreira que foi seu professor de matemática, uma das suas disciplinas favoritas, exerceu uma enorme influência no jovem que, aos 17 anos, se tornou empresário, apesar da firma ter ficado em nome do pai, pois à luz da legislação coeva era menor, e teve de esperar pela emancipação aos 18 anos.

Iniciou-se então no comércio de retalho de mercearia com um estabelecimento na rua Conde Barão, e é bem sucedido. Em meados da década de 1940 abriu a Discoteca do Carmo, no Chiado, já se apaixonara pela música e o fado que escutara nos retiros fora de portas, como afirmou. Paralelamente, tomou uma mercearia noutro ponto da cidade, que se tornou conhecida por comercializar produtos vindos de Pedrógão Grande, que visitava regularmente, onde os pais continuaram a residir.

Na década de 1950 inaugurou em Vila Franca de Xira a sua fábrica de discos, e será ele próprio quem prensará o primeiro disco de microgravação fabricado em Portugal, o LP Estoril 5001. O disco de fados inclui os nomes de Anita Guerreiro, Isaura Gonçalves, Tristão da Silva e Alberto Costa, acompanhados por Casimiro Ramos na guitarra portuguesa e o seu irmão, Miguel Ramos, na viola. A década de 1960, com os novos gostos musicais, veio toldar o sucesso da discográfica, que não tendo parado, levou Manuel Simões a encerrar a fábrica de discos e a abrandar a atividade como produtor discográfico. Manuel Simões dedica-se, então, praticamente em exclusivo, ao comércio de discos, na Discoteca do Carmo, atualmente desativada, que considerava "uma instituição à escala universal".

​Voltou à produção discográfica com edições relacionadas com a sua grande paixão, o fado, na década de 1980. Entre os vários CD editados, além da digitalização de grande parte do espólio histórico da discográfica Estoril, conta-se a série “Lisboa – cidade de fado”, que publicou 16 volumes. Esta série de melodias fadistas conta com a participação dos músicos Arménio de Melo, Paulo Parreira, João Mário Veiga, José Maria Nóbrega e Joel Pina.

Manuel Simões acalentou o sonho de um Museu dedicado a Maria Teresa de Noronha, que não concretizou, mas estabeleceu em dezembro de 2001 uma Fundação com o seu nome à qual deu objetivos precisos, entre eles a divulgação do fado nas suas diferentes vertentes, não esquecendo os valores da solidariedade social, e o apoio aos novos valores.

No dia 27 de agosto de 2008, aos 91 anos, o editor discográfico faleceu em Lisboa, deixando aos vindouros a sua Fundação que, por sua expressa vontade, passou a ser presidida perpetuamente pela sua sobrinha, Rosa Amélia Piegudo.

https://www.fmsimoes.com/fundador