Começou sob os melhores auspícios. Ficou-se lá por cima durante muitos meses: tantos quanto durou o melhor programa ao vivo da nossa televisão. Chegou, mesmo, a aguentar-se durante mais algum tempo. Depois foi a queda. Lenta, mas segura, como se tudo estivesse impecávelmente previsto, como se a perda de qualidade pudesse ser tão previsível quanto o são as coisas verdadeiramente previsivels. E o Zip veio por aí abaixo, sem que nada lhe pudesse valer. Sucederam-se as substituições de gerência. Vasco Morgado chegou, até, a ser patrão da casa.
Da primitiva equipa saem, sucessivamente, Carlos Cruz e Fialho Gouveia. Raul Solnado, dos três o que menos tempo tinha para se dedicar à empresa, é o único que. continua a aguentar-se no naufrágio e de repente a noticia surge inesperada para a grande maioria das pessoas, se não mesmo para todas: A Sassetti comprara o Zip.
O tempo foi passando. Agora já toda a gente sabe da ligação Zíp-Sassetti, do mesmo modo que muita gente contínua a ouvir o «programa» «Tempo Zíp».
sabendo-o apoiado pela empresa que comprou a organização que foi da tripla Solnado, Carlos Cruz e Fialho Gouveia. Mas... o que é, actualmente o Zip-editora-de-discos? Foi para saber isso que mantivémos uns momentos de conversa como homem que está à frente da produção: João Viegas.
ASSOCIAÇÃO
«Zip-Sassetti é, apenas, uma organização com a mesma direcção. A produção Zip não tem nada a ver coma Sassetti.»
João Viegas, que já estava no Zip antes da «grande modífícação», começou logo assim, para que não subsistissem dúvidas. E continuou com a mesma medida:
«Associado à Sassetti, e dado que esta última se tem dedicado desde sempre a um certo sector de artistas. Zip, como editora de discos, tem oportunidade de ser uma etiqueta mais popular, mais aberta ao «pop», ao Fado e ao folclore.
Isto não invalida, de modo nenhum, que qualquer artista que ainda esteja ligado ao Zip, como o Ruy Mingas e o José Barata Moura, por exemplo, não tenha um tratamento muito sério, como, aliás, o justifica o valor que eles têm e o Interesse que merecem.»
Estávamos, já, a falar de nomes. Mas João Viegas ainda queria dizer-nos que: «É muito válida (e acredito muito nela) a ligação das duas empresas. Lá fora também acontece assim, cria-se uma organização e distribuem-se os tipos de música por várias etiquetas. Conheço um caso em Espanha ... »
E João Víegas. falou-nos da etiqueta Accíón, que chega ao ponto de entregar a distribuição dos seus discos por várias outras editoras, como a Belter e a Movieplay.
«É por isso que eu acho que a associação Zip-Sassetti vai resultar muito bem».
NO LUGAR
«As coisas devem estar no seu lugar continuava o dirigente do Zip: «Sem misturas. Poder-se-á assim, fazer um trabalho, em cada campo, muito mais digno, muito mais profundo e honesto».
Para João Viegas, portanto, o trabalho dividido, como que especializado. Muito diferente eram as ideias, a princípio. Não do actual director do Zip mas de quem pensou e montou a empresa. Seja como for, as coisas estão, agora, muito mais definidas e o caminho muito mais seguro. Isto, pelo menos, foi o que nos sugeriu a visita que fizémos às instalações (remodeladas) da organização e a conversa com João Viegas.
Entretanto, restava ainda perguntar quem grava para o Zip. Nomes há que estão ligados à etiqueta desde a primeira hora. Quais são eles, os novos e os velhos?
«Ruy Mingas, José Barata Moura, José Manuel Osório, Hugo Maia de Loureiro, Efe 5, Carlos Moniz, Rebocho Lima, Raul Solnado, Maria do Amparo, Armando Marta, José de Almada, e o Vitor Manuel, vocalista do grupo «Sexta Reacção», que vai gravar a solo pela primeira vez.» A novidade é, portanto, Vitor Manuel.
«Poderá vir a ser um caso. O Zip tem muitas esperanças nele. Até aqui só cantou em Inglês, mas vai gravar em português, um «single» que será orquestrado pelo Pedro Osório.»
Era tudo. O «novo» Zip definiu-se, assim, perante os leitores do «Diário de Lisbo». Em breve veremos, muito possivelmente, os frutos da nova orientação. João Viegas veio dizer-nos que o Zip não morreu: antes pelo contrário, irá, agora, renascer com uma certa força. Os dados estão lançados.
Diário de Lisboa, 01/04/1972
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